sábado, 22 de outubro de 2016

A margem sul

"A margem sul (entenda-se: do Tejo) era um terreno minado de cumplicidades subterrâneas. O conceito era mais político do que geográfico e, por isso, incluo nele, por minha conta, o Alentejo... com as suas cores dominantes, o verde e loiro dos sentidos (conforme as estações), o vermelho das convicções.

Rui Pato​ conta, em saborosas lembranças, como se metiam no comboio, Zeca e ele (mais as violas), e viajavam de borla, tendo a pairar sobre as cabeças, como um possível diadema, o beneplácito dos revisores que passavam de uns para aos outros a senha de salvo-conduto. Às vezes por conta da cumplicidade tácita e oculta, traziam de volta propaganda clandestina. Foi assim que em 1967, alguém se achegou a Rui Pato e, à socapa, lhe meteu nas mãos um rolo de exemplares de um jornal cubano que noticiava a morte de Che Guevara (9 de outubro de 1967). - «Para distribuir em Coimbra, camarada», murmurou a voz anónima."

in "José Afonso - Um Olhar Fraterno" de João Afonso dos Santos

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