terça-feira, 3 de maio de 2016

António Brojo sobre Zeca Afonso e o fado de Coimbra

"... aparece o Zeca Afonso, à volta de 1948, também cantando exclusivamente o fado tradicional. (...)

O Zeca Afonso nessa altura era um cantor tradicional, tendo uma voz de pouca amplitude. Tinha uma voz fraca para cantar o fado tradicional. O ele ter explorado a balada, não há dúvida nenhuma que é esse o tipo de música que ele, já nessa altura, considerava mais adequado à sua maneira de ser e para as suas possibilidades vocais. Aliás, ele tinha uma coisa muito curiosa. Eu posso-lhe contar um episódio. Fomos fazer aí um espectáculo e ele cantou o “Águia que vais tão alta” maravilhosamente. Deram-lhe aplausos. E no fim há um sujeito, um antigo estudante, um velhinho, que vai ter com ele e lhe diz “Você é realmente um cantor extraordinário e deve ser muito feliz”. E diz ele, “Você está enganado”, e acrescenta com aquele ar dele “Eu nem gosto do Fado de Coimbra”. Isto mostra que realmente o Zeca Afonso tinha de evoluir para outro tipo de música.

Ele passou férias em minha casa no Algarve, várias vezes, ele era um homem despegado do dinheiro e às tantas chegava ao meio do mês de Agosto e não tinha o dinheiro e ia para minha casa para ter autonomia. Era realmente um artista, um poeta. E nessa altura acompanhei-o, por exemplo na “Balada do Outono” e numa série de canções que ele fez por essa altura. Eu encontrei-me perante um Zeca Afonso a cantar coisas completamente diferentes.

E repare, se nós quisermos ser justos relativamente ao Zeca Afonso, eu recordo-me perfeitamente dele ter afirmado por volta de 1974 que não queria guitarras a acompanhá-lo, que não queria “raquetes” a acompanhá-lo, como ele chamava à guitarra. Ele não cantava fado de Coimbra. Fado de Coimbra era uma coisa abominável. Ele aí teve também um papel de certa maneira prejudicial. Prejudicou o fado de Coimbra. Depois ele fez contrição. E quando edita o disco de fado de Coimbra (1981) ele vem desdizer tudo quanto tinha afirmado."

Daqui:

http://guitarradecoimbra.blogspot.pt/2006/08/duas-horas-de-conversa-com-antnio.html

Uma retificação: António Brojo não acompanhou Zeca no LP "Balada do Outono". Pode tê-lo feito em algum evento, no LP os instrumentistas foram:

"António Portugal, Eduardo Melo, Manuel Pepe e Paulo Alão"

António Brojo gravou com o Zeca os seguintes singles

FADOS DE COIMBRA (1953):

CONTOS VELHINHOS/INCERTEZA/FADO DAS ÁGUIAS/O SOL ANDA LÁ NO CÉU

e no EP ZECA EM COIMBRA que, como se sabe, foi editado à revelia do Zeca.

O 1º single onde António Brojo acompanha José Afonso.



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