terça-feira, 15 de setembro de 2015

A canção de intervenção

«Vivemos tantos anos a falar pela calada / só se pode querer tudo quando não se teve nada /só quer a vida cheia quem teve a vida parada». Sérgio Godinho cantava assim, em 1974. Um canto urgente, feito de pequenas notas, de palavras, de motivações imediatas. Nesse tempo não havia tempo para mais. Era necessário motivar as pessoas, dar-lhes a entender o que acontecia, e as canções eram como notícias de jornal: efémeras, é certo, mas ainda assim definitivas. A actividade de José Afonso e dos seus companheiros durante esse ano e meio que durou o PREC repartiu-se entre as tarefas mais urgentes e as lutas mais marcantes dessa altura.

Mas isso não lhe retirou a capacidade crítica. Pelo contrário: «Não confundo canção de intervenção com panfleto partidário, embora, em determinada altura, eu tenha incorrido nesse erro», afirmaria, anos mais tarde. E acrescentava: «A canção de intervenção implica um espírito de renúncia a um triunfalismo fácil, bem como ao vedetismo; implica a noção de que estamos afazer música mais como serviço público do que como forma de averbar glórias.» Tratava-se, assim de uma opção concreta, como explicou noutra ocasião: «Talvez porque tenha uma deformação de 16 anos de ensino, dou a minha preferência à intervenção directa, prefiro levar o ouvinte a fazer a sua própria festa com o imediatismo que a canção suscita.»

Daqui:

http://rateyourmusic.com/list/Altair82/contos_velhos__rumos_novos/

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