sábado, 26 de setembro de 2015

RTP



Zeca na sua única intervenção na RTP antes de 1974, nos estúdios da RTP no Lumiar em 1963.

Imagem cedida e esclarecimento do local por Rui Pato

As outras presenças de Zeca na RTP:

Em 1982 esteve no programa de Júlio Isidro (O Passeio dos Alegres)...

«... o Júlio Isidro me telefonou para o Algarve para ir ao programa dele, quando saiu o meu álbum Fados de Coimbra. Disse-me logo que só podia cantar fados de Coimbra e nenhuma das minhas canções... Lá fiz aquela «pato-bravice» de cantar dois fados em «playback»...

Octávio Sérgio

«A 17 de Janeiro fui à televisão fazer play-back com José Afonso e Durval Moreirinhas, no programa “Passeio dos Alegres” de Júlio Isidro.»


Em 1983 esteve no Canal 2, no programa «Tal e Qual» de Joaquim Letria.


Fontes:

"Livra-te do Medo" de José A.Salvador

Blogue "Guitarra de Coimbra" (Parte I)

Café "A Brasileira"

"... no dia em que chega ao café A Brasileira, em Coimbra, anuncia a um grupo de amigos que sabia ali encontrar: "Tenho aqui umas ideias novas que gostava de vos mostrar". Entre eles, Albano da Rocha Pato, jornalista do Primeiro de Janeiro em Coimbra."


... E este café entra na história. Foi a partir daqui que Zeca pedindo uma viola emprestada, se dirige a convite de Rocha Pato a sua casa, e dá-se o encontro com um jovem de 16 anos que, tomando a viola em mãos, dedilha os acordes daquilo que seria o "Menino d'Oiro". O jovem era Rui Pato.

"A Brasileira" abriu em 1928 e encerrou em 1995. O estabelecimento foi fundado por Adriano Soares Teles do Vale que enriqueceu no Brasil com o negócio do café.

Fotos:
"A Brasileira" do antes (café), de ontem (pronto-a-vestir) e de hoje (de novo café. Na parede está parte da letra de "Os Vampiros").

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Belmonte - O calhau

Em 1938 regressa com o seu irmão João a Portugal, passando a residir na casa do seu tio Filomeno, presidente da Câmara Municipal de Belmonte, onde finaliza a 4ª classe. Sobre o tio diz: "comandante da Legião, germanófilo teve uma coisa boa: ensinou-me cantigas populares antigas da Beira; ouvi-o cantar líricas de óperas (…)”; acrescenta: “foi ele que me incutiu o gosto pela música”.

Do professor Tavares: «era um um indivíduo um pouco sanguíneo, de vez em quando tinha explosões», que gostaria de «ver porque era um indivíduo sério”; e os jogos populares (canicho e bilharda) em que não participava «porque era um pouco o sobrinho do senhor doutor Filomeno»

«Já com quarenta e tal anos, vou a Belmonte e canto à noite no castelo. Cantei o «Vira de Coimbra» e saio pela porta principal (...) vem um tipo ter comigo, dá-me uma palmada e diz assim: “Ó filho da mãe, não te lembras, quando me atiraste um calhau às costas?” Eu disse: «Eh, pá, desculpa lá isso!”.

O facto tinha ocorrido quando eu estava na escola primária. Dei-lhe um grande abraço e disse: «Vamos ver se encontramos os tipos que frequentaram a escola»

In Livra-te do Medo de José A. Salvador.

Fotos:
Escola primária onde Zeca fez a 4ª classe, casa onde morou e placa de homenagem.






quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Poesia do Zeca - Mulher

Mulher feita de pernas
braços
perfumes passageiros
Que rompe a madrugada decisiva
Que agoniza
em cada dia que passa

Colónias de símios
Seguem-na de perto
coçando o pêlo
dardejando cobiças

Mulher
à beira
duma largada de pombos
Que fazer do teu braço
do teu crime
da tua mão justiceira?

Rasgas um véu de carne
à tua frente
para poderes ver quem te oprime
te insulta
te incendeia

Não sabes
que rumo terá
a tua marcha migratória
pelas ruas
por onde outrora se viam
sinistros vultos de capuz

Timoneiros da morte
Cadáveres conduzindo sírios
em filas
de gargantas acesas
como piras

Corta
Fulmina
Com a tua clara música
a noite da suástica
Mulher viva

Paris, 29 de abril de 1980 e Azeitão de 1980

Foto: carga policial na década de 40 no Barreiro.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Zeca e a sedução por Coimbra

José A. Salvador (JAS) - Vamos cá ver, se a gente quisesse dizer o que te marcou em Coimbra, porque, sabes uma coisa que eu noto, também já te conheço há uns anos, tu tens uma grande sedução por Coimbra.

Zeca Afonso (ZA) - Pois tenho, é verdade. Agora já não encontro nada que se aproxime da Coimbra em que vivi. (...) Esta recente homenagem que me fizeram (nota: 26 de Maio de 1983), além da satisfação pessoal - ter ali uma data de tipos - ou vaidade, não sei, deu-me a ideia de que há coisas que ainda persistem em Coimbra. A memória de 61... aquela euforia, aquela...

JAS - Aquela efectividade, não é?

ZA - Aquela efectividade. Tu lembras-te de um cartaz, já não é do teu tempo (referindo-se a JAS que estudou em Coimbra a partir do ano de 1964)... havia um cartaz na Queima das Fitas que representava um grupo de estudantes que atravessavam os espaços numa réstia de luar até chegar à lua, dançando e de braço dado.

Fim de citação

in "Livra-te do Medo" de José A. Salvador

Procurei esse cartaz. Sabendo que Zeca foi para a Universidade em 1949, interrompendo de 1953 a 1955 devido a ter prestado serviço militar, depois foi professor em vários locais, tendo terminado a licenciatura em 1963, o cartaz estaria compreendido entre 1949 e 1952.

O cartaz como Zeca o referiu não existe. Talvez a memória o tenha atraiçoado ou talvez outro cartaz se tenha sobreposto nessa memória como sendo da Queima das Fitas.

Aqui ficam os cartazes desse período.

O Andarilho

Meados dos anos 60...para os lados de Barcelos, procurando a "oficina" da artesã Rosa Ramalho.


Na foto , Zeca, Zélia e...os meninos que nos ensinaram o caminho.

(Fotos de R.Pato)

London. London

Londres, 1970.

Depois de terem sido presos pela ditadura militar brasileira, Caetano e Gil foram forçados ao exílio.

Em Inglaterra estava também Zeca Afonso para gravar o icónico "Traz Outro Amigo Também". Sendo os três conterrâneos da mesma pátria – a língua portuguesa -, depressa se tornam cúmplices em longas jantaradas. Muitos brasileiros perguntavam a Caetano como era a vida em Londres. O baiano achou que a melhor forma de satisfazer essa curiosidade seria escrevendo uma canção sobre o assunto.

Conta a lenda que Zeca, com a inventividade que lhe era habitual, depressa trauteou a base melódica para uma nova canção de Caetano.

Chamaram-lhe “London, London”.

Daqui:

http://altamont.pt/cancao-dia-caetano-veloso-london-london/

Entrevista a Zélia Afonso

DN Artes

JOÃO CÉU E SILVA(JCS) - Tem havido reinterpretações das canções. É bom que aconteça?

ZA - Acho que é bom que aconteça. Gosto mais de umas que de outras, até posso às vezes não gostar mesmo nada de algumas, mas é uma posição difícil a minha porque tenho sempre um modelo e está sempre presente aquilo que poderia dizer.

JCS - Amália interpretou uma… (um reparo. Amália cantou duas de Zeca, o Natal dos Simples antes do 25 de abril - Columbia 45RPM, 27/11/1970 - e Grândola, vila morena após o 25 de abril - Columbia 8E 00640332 G - 1974)

ZA - Sim.

JCS - Deveria ser uma sensação estranha ouvir a alegada cantora do regime interpretar a sua canção!

ZA - Alegada!... Até podia achar que aquela música não era para ser cantada daquela maneira...

JCS - Mas gostava de ouvir as versões?

ZA - Só me lembro que achou graça aos Rádio Macau. Divertiu-se, achou graça que tivessem dado outra roupa.

Daqui:

http://www.dn.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=1323493&seccao=M%C3%BAsica

(a gravação do Rádio Macau a que Zeca achou graça. Foi a única gravação dos Rádio Macau nos anos 80. Em 1991 gravaram mais dois temas de Zeca - "Maio maduro Maio" e "Por trás daquela janela")

A canção de intervenção

«Vivemos tantos anos a falar pela calada / só se pode querer tudo quando não se teve nada /só quer a vida cheia quem teve a vida parada». Sérgio Godinho cantava assim, em 1974. Um canto urgente, feito de pequenas notas, de palavras, de motivações imediatas. Nesse tempo não havia tempo para mais. Era necessário motivar as pessoas, dar-lhes a entender o que acontecia, e as canções eram como notícias de jornal: efémeras, é certo, mas ainda assim definitivas. A actividade de José Afonso e dos seus companheiros durante esse ano e meio que durou o PREC repartiu-se entre as tarefas mais urgentes e as lutas mais marcantes dessa altura.

Mas isso não lhe retirou a capacidade crítica. Pelo contrário: «Não confundo canção de intervenção com panfleto partidário, embora, em determinada altura, eu tenha incorrido nesse erro», afirmaria, anos mais tarde. E acrescentava: «A canção de intervenção implica um espírito de renúncia a um triunfalismo fácil, bem como ao vedetismo; implica a noção de que estamos afazer música mais como serviço público do que como forma de averbar glórias.» Tratava-se, assim de uma opção concreta, como explicou noutra ocasião: «Talvez porque tenha uma deformação de 16 anos de ensino, dou a minha preferência à intervenção directa, prefiro levar o ouvinte a fazer a sua própria festa com o imediatismo que a canção suscita.»

Daqui:

http://rateyourmusic.com/list/Altair82/contos_velhos__rumos_novos/

Zeca em Pêro Viseu (Peroviseu)

Zeca Afonso esteve na casa que agora é hotel. A CASA do Conde de Penha Garcia, recuperada por um casal de Peroviseu para empreendimento de turismo rural de três estrelas, recebeu Zeca Afonso, em Maio de 1975. "Foi um dia muito especial para Peroviseu", recorda José Brás Anselmo, o novo proprietário. O momento foi registado para a posteridade e José Brás Anselmo guarda a foto desse dia.

Daqui:

http://www.grandeturismo.com/2014/08/23/zeca-afonso-em-pero-viseu/


Foto: Zeca Afonso a tocar viola no muro que atualmente ladeia a piscina do Hotel Rural.

Eduardo Luís Cortesão - Professor catedrático - 1988

"(…) Eu conheci José Afonso e convivi com ele muito intimamente durante um período curto de tempo e não tenho qualquer dúvida que o que se justificava neste momento é que se fizesse um filme sobre a vida de José Afonso, um filme sobre a sua mensagem. Porque nós, portugueses, neste momento somos um país triste; somos um país pobre de ideias; somos um país de indivíduos cinzentos, que se levantam tristemente, que rancorosamente labutam pelo seu pão, que fazem negócios doidos. Nós, neste momento, somos um país sem poesia, sem beleza, e José Afonso devia ser evocado, porque foi num outro período histórico de Portugal, em que se viveu, realmente, a escuridão, a estupidificação e o abandono, que ele apareceu e deu alma e esperança a muito de nós."

Daqui:

http://josecarlospereira.blogspot.pt/2012/02/eduardo-luis-cortesao-o-filho-do-povo.html